Alexandre Harkaly
A sustentabilidade é um conceito antigo, porém veste hoje roupa nova. Já tivemos algumas ondas de tentativa de renovação da sociedade. Quem não se lembra de Woodstock e dos protestos estudantis de 1968 que arrebataram o mundo, dos protestos contra a guerra do Vietnã? Naquela época questionavam-se os valores hierárquicos e a maneira bélica de administrar o mundo, sem sentimentos. Mudou alguma coisa nos dias de hoje?
Estes fenômenos que parecemisolados estão ligados: a turma à protestou sobre como o planeta era administrado, como as decisões econômicas eram tomadas pois, estavam longe de respeitar o ser humano. Percebeu-se ao longo dos anos e culminou nos anos 60 que o ser humano era feito não somente de carne e osso, mas de sentimentos (paz e amor é isso!)e que é humano e justo pensar-se sobre as coisas de forma ética.
Outras ondas de renovação foram a ecologia e a agricultura biodinâmica e orgânica. O racionalismo que ditou o desenvolvimento e ocupação da terra e atividades agrícolas até a década de 70 pela sociedade ocidental era caracterizado por produtividade acima de qualquer custo (Money man! Money!).
Hoje sabemos que produtividade tem seu preço, que nem sempre tecnologia é amiga e que os agrotóxicos (inseticidas, fungicidas, herbicidas) são verdadeiras bombas ecológicas e que no curtos e longos prazos detonam o meio ambiente e agridem o ser humano, último nível na cadeia ecológica. Ou seja, faltava racionalismo, bom senso e sentimentos.
Até que as ideias começaram a se alinhar demorou. Todas estas ideias confluem hoje para a sustentabilidade.
Sustentabilidade pode ser a financeira, pode ser a ambiental, pode ser a social ou até mesmo a cultural. Como conduzir processos de gestão onde se leva em consideração todos estes aspectos é o desafio de hoje e do futuro. Ela é fato e desafio tanto nas atividades locais, mesmo caseiras até questões globais.
Os produtos orgânicos refletem a essência do que se busca em produtos sustentáveis. "Economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto" é o que se demanda dos orgânicos desde o início e este é o lema da IFOAM (Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica) desde a sua origem. A sustentabilidade adotou este lema também, como ideal, embora a primeira definição de sustentabilidade tenha surgido em 1987 o "Relatório Brundtland" (Nosso Futuro Comum- relatório elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento antes da Agenda 21) que define desenvolvimento sustentável como"suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas".
Sustentabilidade adota o pensamento sistêmico, um paradigma, que surge em vários autores relacionados à agricultura biodinâmica, orgânica e ecologia James Lovelock (criador da teoria de Gaia), que analisa a inter-relação dos aspectos técnicos, econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Surge como uma reação à enorme e perturbadora especialização sofrida pela agricultura moderna norteada pela produção a qualquer custo e pelo lucro.
A estruturação da civilização e vida humanas, onde os diferentes setores de produção possam atender às suas necessidades de forma mais eficiente possível, deve ser possível garantindo-se preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, mantendo as diversidades culturais e possibilitar o florescer da sociedade humana. Será que é?
Dentre as varias propostas de garantia de qualidade que existem para comprovação ao consumidor de que o café produzido é sustentável existem varias propostas algumas mais recentes, outras mais antigas:
- biodinâmico- surgiu na década de 20 do século passado, presente hoje em mais de 40 países inclui rastreabilidade, manejo da paisagem, vitalização através dos preparados homeopáticos e atua no mercado através do selo DEMETER;
- orgânico- os primeiros movimentos surgigam a partir dos anos 30 do século passado com Howard na Índia e Miller na Suiça, tomou corpo a partir dos anos 70 com a fundação da IFOAM- Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica e representa hoje mais de 1,4 milhão de produtores. Há mais de uma centena de selos de certificadoras hoje em todo o mundo todos aplicando normas inspiradas na IFOAM.
Ambas as formas acima proíbem o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos sintéticos e sementes transgênicas.
- Rain Forest Alliance- surgiu nos anos 80-90 e baseia-se em sistema de redução da toxicidade dos agrotóxicos aplicados através da aplicação de uma lista de proibidos e aplica rigoroso controle social e ambiental.
- UtzKapeh- surgiu na Holanda no inicio dos anos 2000, baseia-se principalmente em critérios de rastreabilidade com aplicação de princípios sociais e ambientais e trabalha intensamente o acesso a mercado para seus clientes.
- FLO- Fair Trade LabelingOrganisation- movimento que surgiu com apoio das ingrejas cristãs na Europa e EUA hoje forma um movimento de associações de vários países e baseia-se na eliminação da pobreza e melhor pagamento a comodities para produtores familiares no mundo em desenvolvimento. Atua através do controle de preços destas comodities e aplica critérios sociais e ambientais.
- Ecosocial (para orgânicos)/Integra (para não orgânicos)- selos do IBD que baseiam seus critérios sociais e ambientais e de comercio ético em processos de melhoria contínua, investimentos planejados no social e no meio ambiente.
- Fair for Life- selo de comercio ético da IMO que baseia seus critérios em parâmetros sociais do trabalho e ambientais.
Entre outros.
A agricultura biodinâmica e orgânica é, portanto, a forma de produção agrícola das mais sustentáveis segundo minha opinião, ou seja, sustentabilidade não é coisa nova! Alia cuidados sociais e ambientais com tecnologia verde de produção.
Vejamos o caso do café:
O café é talvez uma das culturas mais importantes de ser cultivado em forma orgânica. O café por ser cultivado em encostas e áreas de mata (sul de Minas, Zona da Mata, Cerrado, Paraná, Vale do Paraiba, etc.) ou, em áreas de mata atlântica e de cerrado, merece cuidados especiais, não só quanto a erosão do solo (normalmente os plantios são em área de encosta) mas também pelo fato de estarem em área de refúgio de fauna importante. Animais silvestres podem encontrar refúgio em áreas de café orgânico, desde aranhas (que controlas outros insetos danosos) até tatus, lagartos, pássaros e outros animais benéficos.
Pelo fato de ser uma cultura perene, o baixo índice de uso de produtos de controle de insetos, pragas, doenças e ervas invasoras cumulativos, são fundamentais para manter-se a saude e fertilidade do solo, mantendo tanto o solo, meio ambiente como o produtor livre de resíduos de agrotóxicos.
Os produtores, funcionários de fazendas e a vida silvestre se beneficiam diretamente, não sendo intoxicados. Nas zonas cafeeiras a existência de pessoas que tiveram sua saúde prejudicada é grande.
Em fazenda orgânica a eficiencia na reciclagem de nutrientes e de energia do sistema atinge altos índices o que contribui para a viabilidade da fazenda diminuindo custos de produção.
Do ponto de vista ambiental, normalmente os café orgânicos, certificados, tem seu meio ambiente, da fazenda monitorados para a adequação das Areas de Proteção Permanente, o que confere um caráter de sustentabilidade, assim como o monitoramento das obrigações sociais, junto a funcionários e membros de associações de produtores.
A sustentabilidade passa por uma adequação no ambito social, ambiental e técnico para eficiencia energética, de nutrientes e de baixo impacto ambiental.
Partir para a prática sustentabilidade não é tão facil quanto parece, mas é viável!
Reinaldo Gallucci, sócio fundador do e-commerce ecoisas.com.br Acretida e apoia a forma de produção orgânica e sustentável. Por esse motivo criou o site ecoisas.com.br para divulgar e comercializar produtos de empresas certificadas que realmente estejam alinhadas com a política de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, adequação a critérios sociais e ética comercial.
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