• quarta-feira, 25 de agosto de 2010

    A executiva no céu

    Pesquisando sobre os termos da administração encontrei esta pérola de Max Gehringer. Vale a pena conferir.


    Foi tudo muito rápido.
    A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou.
    Deu um gemido e apagou.Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal.
    Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas.
    Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas.
    Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
    - Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
    - No céu.
    - No céu?…
    - É. Tipo assim, o céu. Aquele com querubins voando e coisas do gênero.
    - Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.


    Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva. Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.


    E foi aí que o interlocutor sugeriu:
    - Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
    - É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
    - Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
    - Assim? (…)
    - Pois não?


    A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro. Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
    - Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e…
    - Executiva… Que palavra estranha. De que século você veio?
    - Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo ‘executiva’?
    - Já ouví falar. Mas não é do meu tempo.


    Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo
    tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.


    - Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
    - É mesmo?
    - Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
    - Ah, não sabemos.
    - Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
    - Hã?
    - Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aquí vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
    - Que interessante. ..


    - Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: ‘O melhor céu da América Latina’.
    - Fantástico!


    - É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
    - Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista… Ele existe, certo?
    - Sobre todas as coisas.


    - Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico por exemplo, me parece
    extremamente atrativo.
    - Incrível!
    - É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e
    mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.


    - Impressionante!
    - Isso significa que podemos partir para a implementação?
    - Não. Significa que você terá um futuro brilhante … se for trabalhar com o nosso concorrente.
    Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno.


    Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-executiva-no-ceu-max-gehringer/44606/ . Em 25/08/10.

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